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domingo, 30 de setembro de 2012

 Plenos poderes

Tão pacientes fomos

para sermos
que anotámos
os números, os dias,

os anos e os meses,
os cabelos, as bocas que beijámos,
e aquele minuto antes de morrer
deixa-lo-emos sem anotação:
damo-lo aos outros como lembrança
ou simplesmente à água,
à água, ao ar, ao tempo.
E de nascer tão pouco guardámos
a memória.
Ainda que importante e jovial
tenha sido a nossa vida;
e agora não te lembres sequer
do mais pequenos promenor,
não guardate sequer um ramo
da primeira luz.

Sabe-se apenas que nascemos.


Um nó é dado com o fio da vida,

Nada, não ficou nada na tua memória
do mar bravio que ergueu uma onda
e derrubou da árvore uma maçã sombria.

Não tens mais recordações que a tua vida.


Pablo Nerud
a
"Impossível! Impossível que essa doçura de ar não traga outras! Diz o coração se quebrando."
(Clarice Lispector in:  A Descoberta do Mundo)

sábado, 29 de setembro de 2012

"Indagada, na entrevista, sobre aprendizados do tempo do casulo, a borboleta silenciou, movimentou as asas delicadamente, olhou para a margarida que acabara de abraçar, e sorriu. Contemplativa, revisitou na memória a atmosfera de alguns sentimentos que a pergunta lhe fez acessar. Findo o passeio, respondeu à repórter: "houve um momento em que o aperto foi tão extremo e aflitivo que eu imaginei não conseguir suportar. Eu nem sabia que, exatamente naquele ponto, a natureza tecia asas para mim, em silêncio, mas foi lá que senti que eu era feita também para voar. O aperto, entendi somente depois, era uma espécie de morte, um prenúncio da transformação, uma ponte que me levaria a outro modo de ser".

Ana Jácomo

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e - milagre - se anda."
Clarice Lispector in:  Água Viva 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Clariceando

"Era um dia um homem que andou, andou e andou e parou e bebeu água gelada de uma fonte. Então sentou-se numa pedra e repousou o seu cajado. Esse homem era eu. E Deus estava em paz."

Clarice Lispector in: Um Sopro de Vida

"(...)mas viu uma estradinha boba e sentiu que era por ali. Também acreditou. E foi caminhando pela estradinha boba, em direção àquilo em que acreditava."

Caio Fernando Abreu in: Uma história de fadas

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Clariceando

"Porque o tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso. E eu não quero o paraíso, tenho saudade do inferno! Não estou à altura de ficar no paraíso porque o paraíso não tem gosto humano! tem gosto de coisa, e a coisa vital não tem gosto, tanto que sangue na boca quando eu me corto e chupo o sangue, eu me espanto porque meu próprio sangue não tem gosto humano." Clarice Lispector in: A Paixão Segundo G.H

domingo, 23 de setembro de 2012

"De vazio cheio de dúvida já me basta esse que me foi designado. Não me vacinei contra os mal intencionados e indecisos como eu, me vacinei contra a tristeza prolongada, contra o jeito grotesco de viver. Só não quero morrer sem ao menos saber por que motivo me colocaram aqui. Não quero a vida imperativa, quero a não definida, a infinita - se possível".
Priscila Rôde

"Sinto-me como uma semente no meio do inverno, sabendo que a primavera se aproxima. O broto romperá a casca e a vida que ainda dorme em mim haverá de subir para a superfície, quando for chamada. O silêncio é doloroso, mas é no silêncio que as coisas tomam forma, e existe momentos em nossas vidas que tudo que devemos fazer é esperar. Dentro de cada um, no mais profundo no ser, está uma força que vê e escuta aquilo que não podemos ainda perceber. Tudo o que somos hoje nasceu daquele silêncio de ontem. Somos muito mais capazes do que pensamos. Há momentos em que a única maneira de aprender é não tomar qualquer iniciativa, não fazer nada. Porque, mesmo nos momentos de total inação, esta nossa parte secreta está trabalhando e aprendendo. Quando o conhecimento oculto na alma se manifesta, ficamos surpresos conosco mesmos, e nossos pensamentos de inverno se transformam em flores, que cantam canções nunca antes sonhadas. A vida sempre nos dará mais do que achamos que merecemos".

Kahlil Gibran

sábado, 22 de setembro de 2012



Primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

  "Cecília Meireles in:  Obra em Prosa - Volume 1"

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"- Peu, de onde vêm essas músicas? São tão bonitas...
- Eu não sei, mas o que importa?
- Você não fica curiosa para saber de onde elas vêm?
- Eu não. Dias nascem. Dias caem. Músicas tocam.
- Será que a música é uma carícia que não encosta?
- Eu acho que é uma fenda que se abriu no silêncio.
- Mas e se a gente pudesse enxergar a música, já pensou?!
- A gente veria milhares de bolinhas de sabão!
- Sim! As bolinhas de sabão são as músicas de enxergar."

Rita Apoena

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sala de aula"A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico à serviço da mudança ou lamentavelmente, da permanência do hoje." Paulo Freire

"É preciso ousar, aprender a ousar , para dizer NÃO a burocratização da mente a que nos expomos diariamente". Paulo Freire










"Alguém diz que sou bondosa: "está tão enganado que dá pena. Alguém diz que sou severa, e acho graça. Não sou áspera nem amena: "estou na vida como o jardineiro se entrega em cada rosa: "corte, sangue, dor e aroma para que a beleza fique na memória quando a flôr passa. "Amar é lidar com os espinhos de quem ama por inteiro: "com força, não com fraqueza".

Lya Luft

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Pelo o que me diz respeito
Eu sou feita de dúvidas
O que é torto, o que é direito
Diante da vida
O que é tido como certo, duvido
E não minto pra mim
Vou montada no meu medo
E mesmo que eu caia
Sou cobaia de mim mesma
No amor e na raiva
Vira e mexe me complico
Reciclo, tô farta, tô forte, tô viva
E só morro no fim
E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem
Eu por mim já descarrilho
E não atendo a ninguém
Só me rendo pelo brilho de quem vai fundo
E mergulha com tudo
Pra dentro de si
Lá do alto do telhado pula quem quiser
Só o gato que é gaiato
Cai de pé…



Martha Medeiros

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Não peço que tire os sapatos, ao entrar na minha casa. Ou seria minha vida? Entenda como quiser. Peço que tire a máscara e a armadura. Pode deixar ali naquele cantinho, devolvo na saída. Prometo. E não me venha com silêncios ou imobilidades. Nada de recuos ou fugas. Apenas entregue-se. Aqui, o durante, é que importa. O antes e o depois você resolve lá fora, cadeira do analista, bar com amigos, tanto faz. Aceite as falhas, engula a pressa. E não me peça para escutar as coisas que você não diz. Não leio mentes, não faço jogos. Me aceita, me abraça e me recebe. Deixa alguma marca, cria alguma história. Sou uma mistura de aço e gelo. Adicione um pouco de vodka. E sirva-se". Martha Medeiros
"O pequeno deus do amor certa vez dormia deixando ao lado sua flecha amorosa, enquanto várias ninfas, jurando-se sempre castas, vieram, pé ante pé, mas, em sua mão virginal. A mais bela tomou o fogo que incendiara legiões de corações verdadeiros, assim, a lança do desejo ardente dormia desarmada ao lado da mão desta jovem. A flecha, ela mergulhou em um poço de água fria, que se acendeu com o eterno fogo do Amor, Criando um banho e um bálsamo para os enfermos, mas eu, jugo de minha senhora, vim para me curar, e isto, assim, eu provo, o fogo do amor aquece a água, mas a água não esfria o amor". William Shaskespeare

domingo, 16 de setembro de 2012

"Somos assim. Sonhamos o vôo mas tememos as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas,mas é isto que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."
 

Rubem Alves
"Algumas pessoas escolhem ser livre. Outras não tem chance de escolha, apenas são. E nunca mudam, mesmo que queiram."

Gabito Nunes

sábado, 15 de setembro de 2012

Idéias

No velho paradigma de comando-e-controle, as posições hierárquicas tem mais peso do que as idéias. Os egos ganham e as idéias perdem. Idéias ousadas só podem nascer num ambiente onde
as pessoas sentem que não serão criticadas ou satirizadas. Ao mexer com sua energia
criativa interna, a pessoa está trabalhando o seu auto-respeito. Por isso é necessário reconhecer o valor da idéia. Nunca se deve dizer não para cortar uma idéia. As idéias tem que fluir livremente.
Tudo é válido.

Brian Bacon e Ken O'Donnell in:  No Olho do Furacão
(...) Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso é também velhice.
Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer...
Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim , por partes. A seguir, de repente... começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer.
E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste..."

Sandor Márai in "As velas ardem até ao fim"

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

"No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos-
O verbo tem que pegar delírio."
Manoel de Barros

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Então, cuide bem de você. Do que você sente, do que você faz, do que você vê e agrega. Cuide dos seus, avalie a sua importância. Tome conta de si, reajuste-se, pergunte-se. Inclua o necessário, desligue o menos importante. Abra mão quando for preciso. Aumente a beleza do verbo permanecer. Descuidos são nocivos. Ligeirezas arranham" Priscila Rôde

Livros - Caetano Veloso



"Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo".

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

“Gosto de coisas complicadas. Não gosto de água com açúcar.”

Clarice Lispector in A Descoberta do Mundo
"O corpo perfeito, a bolsa cheia ou a vida?
Pensando bem, com altos e baixos, dores e amores, e cores e sombras, eu ainda prefiro a vida."

[Lya Luft]

terça-feira, 11 de setembro de 2012

"A fé é um exercício para a vida inteira. Muitas e muitas vezes, eu me distancio incrivelmente dela, achando que posso resolver tudo sozinha. Não é raro nessas ocasiões, na verdade é bastante comum, eu me atrapalhar toda num turbilhão de emoções que me drenam a energia e o sorriso. Mas, toda vez que consigo acessá-la, de novo, tudo se modifica e se amplia na minha paisagem interna. Na fé, eu sou capaz de me dizer, com amorosa humildade, que grande parte das vezes eu não sei o que é melhor para mim. Eu não sei, mas Deus sabe. Eu não sei, mas minha alma sabe. Então, faço o que me cabe e entrego, mesmo quando, por força do hábito, eu ainda dê uma piscadinha para Deus e lhe diga: "tomara que as nossas vontades coincidam". Faço o que me cabe e confio que aquilo que acontecer, seja lá o que for, com certeza será o melhor, mesmo que algumas vezes, de cara, eu não consiga entender".

Ana Jácomo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

(...) Eu tinha de encontrar
Um jeito de alongar os braços.
E estreitar distâncias em mim." 

Rita Apoena

Amanhecimento  

De tanta noite que dormi contigo
no sono acordado dos amores
de tudo que desembocamos em amanhecimento
a aurora acabou por virar processo.
Mesmo agora
quando nossos poentes se acumulam
quando nossos destinos se torturam
no acaso ocaso das escolhas
as ternas folhas roçam
a dura parede.
nossa sede se esconde
atrás do tronco da árvore
e geme muda de modo a
só nós ouvirmos.
Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos
o pio de todas as asneiras
todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha
Para um dia partirem em revoada.
Ainda que nos anoiteça
tem manhã nessa invernada
Violões, canções, invenções de alvorada...
Ninguém repara,
nossa noite está acostumada.

Elisa Lucinda

domingo, 9 de setembro de 2012

"A esperança me chama, e eu salto a bordo como se fosse a primeira viagem. Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto: "qualquer sinal é um bom presságio. Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito: "ando de olhos fechados feito criança brincando de cega. Mais de uma vez saio ferida ou quase afogada, mas não desisto. "A dor eventual é o preço da vida".

Lya Luft

"A vida é assim: "a gente escolhe um caminho na esperança de que ele vá nos conduzir a um lugar de alegria . Tolos, pensamos que a alegria está no final do caminho. E caminhamos distraídos, sem prestar atenção. Afinal de contas, caminho é só caminho, passagem, não é o ponto de chegada. Com frequência, a gente não chega lá, porque morre antes. Mas há uns poucos que chegam ao lugar sonhado só para descobrir que a alegria não mora lá. Caminharam sem compreender que a alegria não se encontra ao final, mas às margens, ao longo do caminho que percorremos para encontrá-la"!  Rubem Alves

ROBERTO SILVA -O Principe do samba


O cantor e compositor Roberto Silva, o Príncipe do Samba, morreu nesta madrugada, aos 92 anos

sábado, 8 de setembro de 2012


 "Cultive o bom humor, como quem cultiva um bom hábito. Esforce-se para ser alegre.
Afaste os sentimentos mesquinhos que provocam o despeito, a inveja, o sentimento de fracasso, que são origem de infelicidade.
Adote uma filosofia otimista, eduque-se para ser feliz.(...)
Seja feliz, se quer ser bonita!'

[Clarice Lispector - Correio Feminino]

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O samba do crioulo doido


"Senhor" ensina-nos a orar, sem esquecer o trabalho. A dar, sem olhar a quem. A servir, sem perguntar até quando. A sofrer, sem magoar, seja quem for. A progredir, sem perder a simplicidade. A semear o bem, sem pensar nos resultados. A desculpar, sem condições. A marchar para frente, sem contar os obstáculos. A ver sem malícia. A escutar, sem corromper os assuntos. A falar, sem ferir. A compreender o próximo, sem exigir entendimento. A respeitar os semelhantes, sem reclamar consideração. A dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento. Senhor, fortalece em nós, a paciência para com as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros, para com as nossas próprias dificuldades. Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos para nós. Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir seus desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre".

Chico Xavier
"Apronto agora os meus pés na estrada.Ponho-me a caminhar sob sol e vento.
Eles secam as lágrimas, vou ali ser feliz e não volto."
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Homem? É coisa que treme. Cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!" (Guimarães Rosa)

Clariceando

"Impossível!
Impossível que essa doçura de ar não traga outras!
Diz o coração se quebrando."
(Clarice Lispector in:  A Descoberta do Mundo)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas – e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
 Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação. Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos – e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou".

Cecília Meireles - Primavera in: obra em prosa - v. I
"Na mulher interessante a beleza é secundária, irrelevante e até mesmo desnecessária. A beleza morre nos primeiros quinze dias, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse de mulher em mulher anunciando: ser bonita não interessa, seja interessante." - Nelson Rodrigues 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos. Nas sutilezas das ações. Guarde seus dizeres para utilizá-los depois que fizer. Eles serão apenas um complemento. Haja o que houver, aja. Palavras quando não andam sincronizadas com nossos pés, não chegam a lugar algum. Não dizem absolutamente nada. É  na coerência  das  ações   que  a
 a gente se encontra e o outro nos reconhece. Ninguém pode viver preso em um discurso. Ou seja, "seja"!
  Fernanda Gaona
"A nossa mente é um grande caleidoscópio, refletindo o que somos, o que pensamos, o que fazemos, onde estamos conforme tudo que passamos, ou deixamos de passar, e tudo que nos acompanha enquanto vamos traçando nossos caminhos. Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras. Eu jamais iria iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse".  F. Nietzsche

domingo, 2 de setembro de 2012



"Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele. O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós
vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam."
Oscar Wilde
"Mas se te torturas tanto a cada manhã, desligando sem sentir o despertador para que não te jogue bruscamente no centro de um mais um dia a ser preenchido unicamente pelo que conseguires inventar, por que não participar então  de um curso qualquer de inverno? Algo como “Mandalas Alquímicos e a Arquitetura das Catedrais Góticas”, “Prefixos Sânscritos na Obra de Guimarães Rosa”, ou ainda “Premonições Pós-Modernas no Cinema de J. B. Tanko”.
(Caio Fernando Abreu. Saudades de Audrey Hepburn, in: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso)

sábado, 1 de setembro de 2012

“Que setembro venha com bons ventos, que me traga sorte e amor, que não me deixe sofrer, por favor.
Caio Fernando Abreu - Quando setembro vier in: Pequenas epifanias

Marina Lima - Setembro


Primavera
Tudo quer se experimentar
Todas as fronteiras
Querem evaporar
Quem não se encarar com amor
Vai terminar ovelha
No bolso de um pastor
É Setembro
Tudo tenta se superar
E cheia até a beira
A vida quer jorrar
Quem não se encarar com amor
Vai fazer besteira
Na esteira do rancor

Um mundo sem fome mais
Sem opressão
Sem tráfico, sem terror
E com união/educação

Primavera
Tudo no vermelho e sem luz
Mas se alguém pergunta
Dizemos tudo azul
Na TV alguém da maré
Uma brasileira
Diz ser feliz e é

Um mundo sem fome mais
Sem opressão
Sem tráfico, sem terror
E com união/educação

Marina Lima