(...)
Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela
vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real,
conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e
fastidiosamente. Isso é também velhice.
Quando já sabe que um corpo
não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem,
um ser mortal, faça o que fizer...
Depois envelhece o seu corpo; nem
tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o
estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim , por partes. A
seguir, de repente... começa a envelhecer a alma: porque por mais
enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de
desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer.
E
quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações,
ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e
definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque
acordaste..."
Sandor Márai in "As velas ardem até ao fim"
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