O Prazer de Ser
Já não quero ser grande, forte, inatingível.
quero ser, por hora, de um tamanho que
eu ainda me reconheça, que ainda saiba
me encontrar no passado ou um dia no futuro.
Quero ser humana, quero ser carne e osso,
quero sentir, quero tocar... quero poder
ser isso que sou na medida qualquer do tempo,
estar sempre pronta a me recompor das tempestades;
Não devo estar tão errada...
Há tanta água no oceano que se deixa evaporar
pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva.
Cáh Morandi
Um cadim de tudo que gosto, música, literatura, fotografia e outras coisinhas que me fazem feliz....
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Clariceando
“Quanto
à moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem melhor.
Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando."
Clarice Lispector in: A Hora da Estrela
Clarice Lispector in: A Hora da Estrela
domingo, 25 de agosto de 2013
"Cai uma chuva gelada por trás da vidraça. Os dedos dos pés impacientes
dentro da meia de lã, as mãos se aquecendo com a xícara de café, os
lábios sendo mordiscados com os dentes, um pijama velho, um moletom
jogado em cima, os cabelos bem amarrados, os olhos pequenos e perdidos
acompanhando o desenho que água faz no vidro da janela.Não me importo em
estar assim despojada, só quero me sentir o máximo bem que puder,
embora seja improvável isso acontecer em uma noite de sexta, quando o
fim de semana chega e você não tem ninguém. Ninguém que vá te abraçar
enquanto a chuva cai lá fora. Ninguém que vá acalmar a tempestade que
acontece dentro de você. Ninguém que vá te dar a mão quando você tem
tanto receio de estar sozinha. Ninguém que ficaria ali, de graça,
deitado ao teu lado escutando os trovões. Por um instante você pensa que
isso é tão triste, que isso pode ser tão miserável e o amor parece ser
uma esmola que você pede em troca de um sorriso, por mais falso que isso
pareça. Frágil, o barulho da chuva viola o silêncio do pensamento, da
lembrança, da doce ignorância em planejar o futuro. Você tem medo,
porque você vê que tem tanta lágrima por dentro, escondida, calada,
tímida e um dia chuvoso e frio é tão pouco comparado a tudo que você
esconde atrás de um rosto discretamente limpo e doce."
Cah Morandi
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
Três muié, ou três irmã,
Três cachôrra da mulesta,
Eu vi, num dia de festa,
No lugá Puxinanã.
A mais véia, a mais ribusta,
Era mêrmo uma tentação!
Mimosa flô do sertão,
A sigunda, a Guiléimina,
Tinha uns ói que ô! Mardição!
Matava quarqué cristão
Os oiá dessa minina!
Os ói dela, paricia
Duas istrêla tremendo,
Se apagando e se acendendo
Im noite de ventania.
A Tercêra, era a Maroca.
Cum côipo munto má feito.
Mas porém, tinha, nos peito
Dois cuscús de mandioca.
Dois cuscús, qui, prú capricho,
Quando éla passou prú eu,
Minhas venta se acendeu
Cum o chêro vindo dos bicho!
Eu inté, mi atrapaiáva,
Sem sabê das três irmã
Que eu vi im Puxinanã,
Quá éra a qui mi agradáva...
Iscuiendo a minha cruz
Prá saí dêsse imbaráço,
Desejei morrê nos bráço,
Da dona dos dois cuscús!!!
Três cachôrra da mulesta,
Eu vi, num dia de festa,
No lugá Puxinanã.
A mais véia, a mais ribusta,
Era mêrmo uma tentação!
Mimosa flô do sertão,
Qui o pôvo chamava Ogusta.
A sigunda, a Guiléimina,
Tinha uns ói que ô! Mardição!
Matava quarqué cristão
Os oiá dessa minina!
Os ói dela, paricia
Duas istrêla tremendo,
Se apagando e se acendendo
Im noite de ventania.
A Tercêra, era a Maroca.
Cum côipo munto má feito.
Mas porém, tinha, nos peito
Dois cuscús de mandioca.
Dois cuscús, qui, prú capricho,
Quando éla passou prú eu,
Minhas venta se acendeu
Cum o chêro vindo dos bicho!
Eu inté, mi atrapaiáva,
Sem sabê das três irmã
Que eu vi im Puxinanã,
Quá éra a qui mi agradáva...
Iscuiendo a minha cruz
Prá saí dêsse imbaráço,
Desejei morrê nos bráço,
Da dona dos dois cuscús!!!
ZÉ DA LUZ
"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."
Patativa do Assaré
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."
Patativa do Assaré
O guardador de rebanhos
Eu nunca guardei rebanhos,Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
domingo, 11 de agosto de 2013
Mãe é tudo igual, só muda de endereço.
Não concordo 100% com essa afirmação, mas é verdade que nós, mães,
temos lá nossas semelhanças. Basta reunir uma meia-dúzia num recinto
fechado para se comprovar que, quando o assunto é filho, as experiências
são praticamente xerox umas das outras.
Por outro lado, quem
arriscaria dizer que pai é tudo farinha do mesmo saco? Nunca foram
devidamente valorizados, nunca receberam cartilhas de conduta e sempre
passaram longe da santificação. Cada pai foi feito à imagem e semelhança
de si mesmo.
As meninas, assim
que nascem, já são tratadas como pequenas "nossas senhoras" e começam a
ser catequizadas: "Mãe, um dia você vai ser uma". E dá-lhe informação,
incentivo e receitas de como se sair bem no papel. Outro dia, vi uma
menina de não mais de três anos empurrando um carrinho de bebê com uma
boneca dentro. Já era uma mini mãe. Os meninos, ao contrário, só pensam
nisso quando chega a hora, e aí acontece o que se vê: todo pai é fruto
de um delicioso improviso.
Tem pai que é desligado de nascença,
coloca o filho no mundo e acha que o destino pode se encarregar do
resto. Ou é o oposto: completamente ansioso, assim que o bebê nasce já
trata de sumir com as mesas de quinas pontiagudas e de instalar rede em
todas as janelas, e vá convencê-lo de que falta um ano para a criança
começar a caminhar.
Tem pai que solta dinheiro fácil. E pai que
fecha a carteira com cadeado. Tem pai que está sempre em casa, e
outros, nunca. Tem pai que vive rodeado de amigos e pai que não sabe o
que fazer com suas horas de folga. Tem aqueles que participam de todas
as reuniões do colégio e outros que não fazem ideia do nome da
professora. Tem pai que é uma geleia, e uns que a gente nunca viu chorar
na vida. Pai fechado, pai moleque, pai sumido, pai onipresente. Pai que
nos sustenta e pai que é sustentado por nós. Que mora longe, que mora
em outra casa, pai que tem outra família, e pai que não desgruda, não
sai de perto jamais. Tem pai que sabe como gerenciar uma firma,
construir um prédio, consertar o motor de um carro, mas não sabe direito
como ser pai, já que não foi treinado, ninguém lhe deu um manual de
instruções. Ser pai é o legítimo "faça você mesmo".
Alguns
preferem não arriscar e simplesmente obedecem suas mulheres, que têm
mestrado e doutorado no assunto. Mas os que educam e participam da vida
dos filhos a seu modo é que perpetuam o charme desta raça fascinante e
autêntica. Verdade seja dita: há muitas como sua mãe, mas ninguém é como
seu pai.
Martha Medeiros
sábado, 10 de agosto de 2013
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
domingo, 4 de agosto de 2013
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
O Cão Sem Plumas
A cidade é passada pelo riocomo uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
(João Cabral de Melo Neto)
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