"Cai uma chuva gelada por trás da vidraça. Os dedos dos pés impacientes
dentro da meia de lã, as mãos se aquecendo com a xícara de café, os
lábios sendo mordiscados com os dentes, um pijama velho, um moletom
jogado em cima, os cabelos bem amarrados, os olhos pequenos e perdidos
acompanhando o desenho que água faz no vidro da janela.Não me importo em
estar assim despojada, só quero me sentir o máximo bem que puder,
embora seja improvável isso acontecer em uma noite de sexta, quando o
fim de semana chega e você não tem ninguém. Ninguém que vá te abraçar
enquanto a chuva cai lá fora. Ninguém que vá acalmar a tempestade que
acontece dentro de você. Ninguém que vá te dar a mão quando você tem
tanto receio de estar sozinha. Ninguém que ficaria ali, de graça,
deitado ao teu lado escutando os trovões. Por um instante você pensa que
isso é tão triste, que isso pode ser tão miserável e o amor parece ser
uma esmola que você pede em troca de um sorriso, por mais falso que isso
pareça. Frágil, o barulho da chuva viola o silêncio do pensamento, da
lembrança, da doce ignorância em planejar o futuro. Você tem medo,
porque você vê que tem tanta lágrima por dentro, escondida, calada,
tímida e um dia chuvoso e frio é tão pouco comparado a tudo que você
esconde atrás de um rosto discretamente limpo e doce."
Cah Morandi
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