"Ter você nu na cama
que deleite.
E como a gente brinca
e rola e ri
para depois sentar
nos lençóis descompostos
o corpo ainda suado
e continuando sempre
o mesmo jogo
falar a sério
de literatura.
Te beijo no cangote
e quieta penso:
um outro amante assim
Senhor
que trabalho terias
pra me arrumar
se me tomasses este."
(Marina Colasanti - Entre um jogo e outro)
Um cadim de tudo que gosto, música, literatura, fotografia e outras coisinhas que me fazem feliz....
terça-feira, 26 de maio de 2015
segunda-feira, 25 de maio de 2015
"Quase bonita, ela tinha pequenos defeitos que só faziam aumentar seu magnetismo. Suas sobrancelhas formavam uma única linha ao longo da testa e sua boca sensual era encimada pela sombra de um buço. Seus olhos eram negros e amendoados, ligeiramente inclinados para cima nas extremidades. As pessoas que a conheciam bem diziam que a inteligência e o humor de Frida brilhavam naqueles olhos; dizem também que os olhos revelavam seu estado de ânimo: devorador, fascinante, sedutor, cético, desmoralizante ou destruidor. E na franqueza de seu olhar fixo havia algo que fazia com que seus interlocutores se sentissem desmascarados, como se estivessem sob a vigilância atenta de uma jaguatirica."
Hayden Herrera, "Frida definitiva: a biografia"
Hayden Herrera, "Frida definitiva: a biografia"
sábado, 23 de maio de 2015
"(...) Aquilo a que muita gente chama amar consiste em escolher uma mulher e casar com ela. Escolhem, juro, já os vi. Como se se pudesse escolher no amor, como se amar não fosse um raio que quebra os ossos e nos deixa paralisados no meio do pátio. Tu dirás que eles escolhem porque-a-amam; creio que é o contrário. Não se pode escolher Beatriz, não se pode escolher Julieta. Não podemos escolher a chuva que nos vai encharcar até os ossos quando saímos de um concerto.”
Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha.
Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
BB King - The Thrill Is Gone
Hoje todas as guitarras do mundo choram em tributo ao grande rei...
Today all the guitars are crying in tribute of the big king...
+PAx...
Peço a bênção da vida!!
Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa.. Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou. Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E tem um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
Clarice Lispector in A Descoberta do mundo: crônicas
Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa.. Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou. Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E tem um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
Clarice Lispector in A Descoberta do mundo: crônicas
Adeus a BB King, com a justa homenagem de quem entende do cortado.
Texto de Mauricio Winckler Perdomo:
Texto de Mauricio Winckler Perdomo:
"Tenho lembranças que não consigo datar de um tempo em que era muito criança. Tão vivas, como se tivessem acabado de acontecer.
Minha mãe era estudante de letras e tinha, além de mim, um irmão mais velho. Meu pai era um comerciante. Nesta época e eu me lembro de ter que passar muitos dias sem vê-lo. Tínhamos como ajudante uma senhora que me lembro de atender pelo nome de dona Fia. Me recordo de ir para a casa dela e ficar a maior parte do dia sob seus cuidados. Me lembro de gostar da comida que ela fazia. Era muito simples, arroz feijão, um guisado e uma salada. Lembro do olhar terno maternal e dos conselhos da velha senhora de pele bem enrugada e mãos calejadas. Lembro do tipo de afeto que desenvolvi por ela ser especial , e guardo no meu coração este afeto e respeito que nunca mais esquecerei. Somente mais tarde, tomei consciência de quem era ela, uma ajudante ou babá que minha mãe havia contratado para auxiliar enquanto ela ia concluir seu curso de letras e se tornar professora.
Fui uma criança difícil, todos em minha família afirmam, e minhas lembranças endossam esta afirmação. Sempre tive problemas para me encaixar em grupos sociais ou obedecer regras. Fui muito brigão, apanhei muito por ser assim. Mas quando me lembro de dona Fia, só consigo ter boas recordações dos olhares doces, risadas rasgadas apesar de contidas, abraços fraternos e respeito mútuo. Foi uma convivência especial, a nossa.
Depois de certa idade, durante a adolescência , quando me apaixonei por música, depois de um breve período em que escolhi dentre todas as opções disponíveis no interior de Minas nos anos 80, sem nenhuma influência significativa por parte de minha família, o rock como meu ritmo preferido e alvo de minhas primeiras experiências já como um músico precoce. Ouvia o que me era disponível e comecei a colecionar os primeiros vinis. Também muito precocemente, por volta dos 17 anos, percebi que o rock era um sub produto, e fui em direção a raiz do mesmo. Quando tive contato com o Blues, pude perceber o porquê de minha predileção ter acontecido, mesmo sem ter tido nenhuma justificativa dentro de minha família. E um dos primeiros que me fizeram perceber isso, talvez pela sua grande popularidade, foi o grande BB. King.
Lembro da primeira vez que vi um vídeo dele. Seu solo e suas feições me remeteram diretamente pra dentro da casa de dona Fia. Sua guitarra me soava como a voz dela a me dar conselhos e seu olhar, cheio de dor e esperança , me enchiam de algo que não consigo explicar. Mais tarde, tive a chance de vê-lo ao vivo nos Estados Unidos, onde assisti a seu show por honestos 50 dólares. Um show feito para americanos. Neste dia, ele me repassou essa mesma impressão que havia tido por toda vida. Hoje sou um imitador dele e de mais 100 grandes nomes deste estilo que me cativou pela simplicidade e pela verdade nele contida. Foi um grande mestre. Assim como dona Fia. E me sinto bem em ter aprendido tanto com ambos.
E espero um dia poder reencontrá-los no lugar que seus olhares profundos refletiam a Paz."
Minha mãe era estudante de letras e tinha, além de mim, um irmão mais velho. Meu pai era um comerciante. Nesta época e eu me lembro de ter que passar muitos dias sem vê-lo. Tínhamos como ajudante uma senhora que me lembro de atender pelo nome de dona Fia. Me recordo de ir para a casa dela e ficar a maior parte do dia sob seus cuidados. Me lembro de gostar da comida que ela fazia. Era muito simples, arroz feijão, um guisado e uma salada. Lembro do olhar terno maternal e dos conselhos da velha senhora de pele bem enrugada e mãos calejadas. Lembro do tipo de afeto que desenvolvi por ela ser especial , e guardo no meu coração este afeto e respeito que nunca mais esquecerei. Somente mais tarde, tomei consciência de quem era ela, uma ajudante ou babá que minha mãe havia contratado para auxiliar enquanto ela ia concluir seu curso de letras e se tornar professora.
Fui uma criança difícil, todos em minha família afirmam, e minhas lembranças endossam esta afirmação. Sempre tive problemas para me encaixar em grupos sociais ou obedecer regras. Fui muito brigão, apanhei muito por ser assim. Mas quando me lembro de dona Fia, só consigo ter boas recordações dos olhares doces, risadas rasgadas apesar de contidas, abraços fraternos e respeito mútuo. Foi uma convivência especial, a nossa.
Depois de certa idade, durante a adolescência , quando me apaixonei por música, depois de um breve período em que escolhi dentre todas as opções disponíveis no interior de Minas nos anos 80, sem nenhuma influência significativa por parte de minha família, o rock como meu ritmo preferido e alvo de minhas primeiras experiências já como um músico precoce. Ouvia o que me era disponível e comecei a colecionar os primeiros vinis. Também muito precocemente, por volta dos 17 anos, percebi que o rock era um sub produto, e fui em direção a raiz do mesmo. Quando tive contato com o Blues, pude perceber o porquê de minha predileção ter acontecido, mesmo sem ter tido nenhuma justificativa dentro de minha família. E um dos primeiros que me fizeram perceber isso, talvez pela sua grande popularidade, foi o grande BB. King.
Lembro da primeira vez que vi um vídeo dele. Seu solo e suas feições me remeteram diretamente pra dentro da casa de dona Fia. Sua guitarra me soava como a voz dela a me dar conselhos e seu olhar, cheio de dor e esperança , me enchiam de algo que não consigo explicar. Mais tarde, tive a chance de vê-lo ao vivo nos Estados Unidos, onde assisti a seu show por honestos 50 dólares. Um show feito para americanos. Neste dia, ele me repassou essa mesma impressão que havia tido por toda vida. Hoje sou um imitador dele e de mais 100 grandes nomes deste estilo que me cativou pela simplicidade e pela verdade nele contida. Foi um grande mestre. Assim como dona Fia. E me sinto bem em ter aprendido tanto com ambos.
E espero um dia poder reencontrá-los no lugar que seus olhares profundos refletiam a Paz."
domingo, 3 de maio de 2015
"Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo. Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas. (...) Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía."
Trecho de "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe
Trecho de "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe
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