ODE AOS CAMPEÕES DO MUNDO
Poema de Manoel Caetano de Mello
Maracanã em 50, anfiteatro da derrota de um povo,
que para ali acorrera a assistir ao embriago dos nossos,
enquanto ouviam no rádio os milhões o correr da[partida
Apoteose transferia nas lágrimas tristes e palmas
aos vencedores e bravos guerreiros da equipe uruguaia
58 de novo nos leva ao calor da disputa
agora em campos molhados da lousa Suécia que encanta
Primeiro a Áustria vencida, depois a Inglaterra não cede,
e o empate premia o poder das esquadras em luta
Foram baldados os esforços dos nossos, a rede está incólume,
porque MacDonald, o arqueiro, os potentes disparos apara
Mas o astucioso Feeola com a Rússia coloca Pelé,
cuja presença agressiva incentiva os dois goals de Vavá
e abre com génio o caminho das redes do arqueiro galês
Por esse tempo a fama dos nossos correra a Europa
e no Brasil outro vinho de vida reanima esta gente
(que não se deixa embriagar, com a lembrança das mágoas passadas
Para a partida com a França Gilmar que ainda era invencível
baqueia aos pés de Fontaine, porém os brasileiros respondem
e no final obtêm a vitória que os francos abate
Vem afinal a partida que o cetro do mundo dará
O adversário ainda invicto é a própria Suécia que encanta
que comparece com o Rei e incentiva os heróis da peleja
e mal começa a partida os- suecos conseguem o objetivo
roas sem desânimo os nossos se lançam à. dura batalha
as flechas correm no campo (em camisas de verde e amarelo
Este é Garrincha que dribla em tropel, o "Manoel Pernas Tortas",
e lança um tiro a Vavá que .acompanha o perfil do horizonte
logo em corrida o avante arremessa e é "gôôôôôl... de Vavá" !
(Ao pé do rádio estes olhos as lágrimas choram com honra
O mesmo lance se segue e outro goal o avante consegue
e os noventa minutos os atletas morenos consagram
O arauto Nelson sob a forma do velho Nesíor justifica
essa conquista dos louros mundiais: "De Didi não pendia
a camiseta dos outros, mas via-o vestido de manto
de imperador etíope de rancho em passeio triunfal".
Glória a Santos, o Nilton, o Djalma, e Orlando, e Zagalo,
Vavá, Garrincha, Gilmar, e Pele, o dos chutes alados,
Zito, Didi e Hideraldo Bellini, o domador de cavalos,
e aos outros todos que antes com alma também porfiaram
ou construíram o espetáculo com amor, pelos seus bastidores
São os heróis brasileiros que deram-nos esta vitória
que foi gerada entretanto nas dores do Maracanã
Rio, 1958
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