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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ENXURRADA

Cantiga
De acender estrelas
E limpar as águas,
Cantiga
De zerar as mágoas
E não mais tecê-las,
Cantiga de cantar com a chuva que cai no telhado;

Cantiga
De queimar incenso
E comer com a mão,
Cantiga
De revirar o chão
E quebrar o senso
Cantiga de comer inhame com sal ou melado;

Cantiga
De ter fantasias
E renascer moleques,
Cantiga
De ser estripulias
E amarrar pileques,
Cantiga
De trançar embiras
E limpar as barras,
Cantiga
De tocar guitarra
E espantar as birras,
Cantiga de correr com a ema em pleno cerrado;

Cantiga de descanso do homem que planta,
Cantiga de sossego da mulher que fia,
Cantiga do olhar que a tudo encanta,
Cantiga de brilhar no encanto,
Cantiga de vem cá Maria,
Cantiga de voar meu canto,
Cantiga de correr ao nada,
Cantiga de não passar calço,
Cantiga de correr enxurrada,
Cantiga de andar descalço.

Wander Porto 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Venha... 
Chegue bem de mansinho,
Se quiseres, permaneça! 
Quero-te por perto;
Faço gosto! 
E se for pra ir embora,
Que seja sem pressa...
Acho que a tristeza
Ainda pode esperar.
Eu, não!



Ana Soares
INSÓLITO

Quero a dádiva das surpresas
E o passo largo depois do nada,
Quero as águas soltas, sem represas,
Quero todos os anjos da madrugada.

Quero o espanto de ser feliz.

Recuso, 
Portanto,
Amores formulados
Com ômega-3, açúcar e anti-frizz!


Wander Porto

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio pleno que se estava encarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: ah, abri as mãos e o coração e não estou perdendo nada! E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!”.

. Clarice Lispector in De amor e amizade .

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Apesar das minhas fragilidades,
Dos contratempos;
Das minhas insatisfações;
Da minha inércia em relação as coisas
que eu não posso mudar...
Ainda assim, eu consigo ver de forma bem ampliada,
as pequenas coisas boas que a vida reservou pra mim.
E é assim que eu quero viver.
Esta é a vida que eu escolhi pra mim!
Quero de uma forma sublime reduzir os meus problemas, enxergá-los menor, enfraquecê-los diante de tudo aquilo que for bom...
E é isto que faz sentido;
E é só isto que faz tudo valer a pena!
É na corda bamba que eu vou aprendendo como é que se faz!
E eu avanço...

Ana Soares

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva 
Não faz ruído senão com sossego. 
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva 
Do que não sabe, o sentimento é cego. 
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Livrai-me do que desbota a minha lucidez e da alienação de achar que a felicidade está no Outro e não em mim. Que seja assim."

Marla de Queiroz
Foto: Amém!

Via Omeletras, Homelet e Juliegg

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014


Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia.
Esse jeito de ver além dos olhos, de ouvir além dos ouvidos,
de sentir a textura do sentimento alheio, tão clara, no próprio coração.
Essa sensação, às vezes, de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta.
Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada.
Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza.
Esse cuidado espontâneo com os outros.
Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada.
Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói ser ferido.
Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia.

- Ana Jácomo

Então....Foto
Retornando das férias...

"Eu aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular!”

 William Shakespeare