Bem,
mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entreaberta
cor-de-rosa-vivo. Fiquei feito boba, olhando com admiração aquela rosa
altaneira que nem mulher feita ainda não era. E então aconteceu: do
fundo de meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria, ah como
eu queria. E não havia jeito de obtê-la. Se o jardineiro estivesse por
ali, pediria a rosa, mesmo sabendo que ele nos expulsaria como se
expulsam moleques. Não havia jardineiro à vista, ninguém. E as janelas,
por causa do sol, estavam de venezianas fechadas. Era uma rua onde não
passavam bondes e raro era o carro que aparecia. No meio do meu silêncio
e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só
minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista
escura de tanta tonteira de perfume.
Clarice Lispector in: "Felicidade clandestina"-
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