"Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos
que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado,
convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num
objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue,
asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais
abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o
desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua
dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e
máscaras. "
Eugénio de Andrade in 'Os Afluentes do Silêncio'
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