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terça-feira, 13 de março de 2012

A Chegada da Caixa de Abelhas


Eu mesma pedi, esta caixa de madeira
Branca e quadrada como uma cadeira, pesada demais.
Seria o esquife de um anão
Ou de um bebê quadrado,
Não fosse o rumor que vem de dentro.

Está fechada agora, é perigosa.
Devo zelar por ela a noite inteira
E não posso ir embora.
Não há saída, é impossível ver o que há nela.
Só uma pequena tela, sem janelas.

Espio pela fresta.
Tudo escuro, escuro,
Pelo enxame zangado de mãos africanas,
Miúdas, prensadas para exportação,
Negro com negro, escalando com ódio.

Soltá-las de que jeito?
O zumbido é o que mais me apavora,

As sílabas incompreensíveis.
São como uma turba romana,
Não são nada sozinhas, mas juntas, meu deus!

Ouço ansiosa esse latim furioso.
Não sou um Cesar.
Só encomendei uma caixa de maníacas.
Posso devolver.
Ou deixá-las morrer, sou a dona, não preciso tomar conta.

Imagino se têm fome.
Imagino se me esqueceriam
Se eu abrisse a tampa e me fosse e virasse árvore.
Um laburno, com suas louras colunas
E anáguas de cereja.
Podiam muito bem me ignorar
Em meu véu funerário, em meu vestido lunar.
Não sou feita de mel.
O que querem de mim?
Amanhã serei Deus, e vou soltá-las enfim.
A caixa é apenas temporária.
SYLVIA PLATH


Mulheres na Literatura

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