Um cadim de tudo que gosto, música, literatura, fotografia e outras coisinhas que me fazem feliz....
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
"O perfume das bananas é escolar e pacífico.
Quando mamãe disse: filha, vovô morreu, pode falhar de aula,
eu achei morrer muito violoncelírico.
Abriam-se as pastas no começo da aula,
os lápis de ponta fresca recendiam.
O rapaz de espinhas me convocava aos abismos,
nem comia as goiabas,
desnorteada de palpitações.
Filho-da-puta se falava na minha casa,
desgraçado nunca, porque graça é de Deus.
No teatro ou no enterro,
o sexofone me põe atrás do moço,
porque as valsas convergem, os lençóis estendidos,
abril, anil, lavadeira no rio,
os domingos convergem.
O entre-parênteses estaca pra convergir com mais força:
no curso primário estudei entusiasmada o esqueleto humano da galinha.
Quero estar cheia de dor mas não quero a tristeza.
Por algum motivo fui parida incólume,
entre escorpiões e chuva.” Adélia Prado
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