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terça-feira, 12 de abril de 2011

Cartas imaginárias

"Querido Helano,

Hoje eu andei as ruas todas em silêncio, tentando fazer silêncio pelo lado de fora. Quando não quero que os meus pensamentos acordem as crianças do mundo, prefiro escrever uma carta sem muito ruído. Antes disso, chamei a minha avó. A minha avó só queria um abraço. E avós, na minha história, são pessoas que esperam o dia todo por um abraço. E abraços, na minha história, são técnicas de estourar, com o corpo, um balão cheio de vazios. Ah, Helano, vim pelas ruas lhe escrevendo cartas. Dois rapazes riram das roupas de um homem. Quis escrever cartas a esse homem também, mas dois passos eram ainda mais longe que Paris! Queria dizer a ele que não se sentisse desconfortável no mundo, tudo bem a sua blusa ser assim. O homem baixou a cabeça como se o carteiro entre nossos passos tivesse errado os braços e o homem, já tão longe de mim, tivesse atravessado a rua. Quis dizer que a blusa roxa e brilhante brincava de voar no varal, acenando alegre aos transeuntes. Quis dizer isso a ele, quis muito, mas não disse, é claro. Há tantas coisas que não dizemos a um desconhecido... Talvez, ainda mais, muito mais, aos desconhecidos de Paris! Por isso lhe escrevo, para que não se esqueça de nosso mundo quentinho. Por hoje, fiquei com o começo desta carta e um abraço em minha avó. Por hoje, querido Helano, por hoje, foi só."

(Rita Apoena)

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