Um cadim de tudo que gosto, música, literatura, fotografia e outras coisinhas que me fazem feliz....
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Ah! Clarice!!!
"Sou acompanhada por órgão e também por flauta doce. A flauta em espiral. Eu sou muito tango também." Clarice Lispector In: Um sopro de vida
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Clariceando
"...hoje eu fico com as borboletas. Pela manhã, uma delas, de espécie comum, branca e pequena, entrou pela janela e veio tomar café comigo. Mais propriamente, visitar-me na hora do café. Não pousou na xícara nem nos biscoitos nem na margarina. Limitou-se a a dar uns volteios em torno da mesa e retirou-se, deixando a lembrança agradável de sua visita. Embora cordial, estava apressada. Todas as borboletas são apressadas por natureza. ..."
Carlos Drummond de Andrade. A Visita da Borboleta em: Moça Deitada na Grama
Carlos Drummond de Andrade. A Visita da Borboleta em: Moça Deitada na Grama
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
mineiridade
Engraçado, a gente daqui está na era do shopping…
Mas quem vem visitar Minas é claro que vai se encantar com as nossas vendas: o fascinante passeio pelos mini-mercadinhos do nosso interior.
Nada mais mineiro e repleto de mineiridade e mineirice do que as nossas vendas.
Nelas a gente entra e demora a sair, encantado com a descoberta diversa: um queijo, um doce, um café… Peneira, bule, sacola, pé-de-moleque, rapadura…
Um desperdício da hora, um perdido e achado… Seu Zé, D. Maria ajudam na dificuldade de saber os detalhes; sabem de cor os preços, medidas e pesos…
E a gente se sente esperto e acha pechinchas e sabores mil…
Eta, Minas… Cada quadra, uma esquina e uma venda…
Riqueza nossa, prazer que se divide…
Uma não é igual à outra, mas são todas das Minas, repetidas na desordem aparente dos arranjos tão certeiros.
Nelas o arroz brilha, o feijão é popudo, o queijo derrete ao olhar, dá vontade de levar até o chinelo, o enfeite, a cesta…
Acabam com o stress, desarmam os afoitos… Nelas não se compra, adivinha-se prazeres e vontades, troca-se mercadorias por notas e moedas, alivia-se da pressa…
Texto de Marina Manzoni
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Clariceando
Quintanares
Diálogo
— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida."
Rita Apoena
— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida."
Rita Apoena
Sutilmente...
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Clariceando
"Outra coisa: se tinha alguma dor e se enquanto doía ela olhava os ponteiros do relógio, via então que os minutos contados no relógio iam passando e a dor continuava doendo. Ou senão, mesmo quando não lhe doía nada, se ficasse de fronte do relógio espiando, o que ela não estava sentindo também era maior que os minutos contados no relógio. Agora quando acontecia uma alegria ou uma raiva, corria para o relógio e observava os segundos em vão."
Clarice Lispector In:Perto do Coração Selvagem -
Clarice Lispector In:Perto do Coração Selvagem -
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
" Pergunto-te em que reino estiveste de noite. E a resposta é: estive no reino do que é livre, respirei a magna solidão do escuro e debrucei-me à beira da lua. Noite alta fazia tal silêncio. Igual ao silêncio de um objeto pousado em cima de uma mesa: silêncio asséptico de "a coisa"."
Clarice Lispector In: Um sopro de vida
Clariceando...
sábado, 19 de fevereiro de 2011
"Como uma fome, me dava. Mas uma fome de ver, não de comer. Sentava na sala toda arrumada, tapete escovado, cortinas lavadas, cestas de frutas, vasos de flores - acendia um cigarro e ficava mastigando com os olhos a beleza das coisas limpas, ordenadas, sem conseguir comer nada com a boca, faminto de ver. À medida que a casa ficava mais bonita, eu me tornava cada vez mais feio, mais magro, olheiras fundas, faces encovadas. Porque não conseguia dormir nem comer, à espera dele. Agora, agora vou ser feliz, pensava o tempo todo numa certeza histérica. Até que aquele cheiro de alecrim, de hortelã, começasse a ficar mais forte, para então, um dia, escorregar que nem brisa por baixo da porta e se instalar devagarzinho no corredor de entrada, no sofá da sala, no banheiro, na minha cama. Ele tinha chegado."
Caio Fernando Abreu In: Os dragões nao conhecem o paraíso
imagem capturada no retalhoscfa.blogspot.com
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
"Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas.""Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível."
Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
"Era de manhã bem cedo. O homem que acreditava abriu todas as janelas para o dia azul brilhante. Respirou fundo, sorriu. Ficou pensando em quem poderia convidar para ir com ele ao País das Fadas. Alguém de que gostasse muito e também acreditasse. Sorriu ainda mais quando, sem esforço, lembrou de uma porção de gente. Esse convite agora está sempre nos olhos dele: quem acredita sabe encontrar. Não garanto que foi feliz para sempre, mas o sorriso dele era lindo quando pensou todas essas coisas — ah, disso eu não tenho a menor dúvida. E você? "
Caio Fernando Abreu In: Pequenas Epifanias -O Estado de S. Paulo, 30/11/1988
"Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!"
Fernanda Mello
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Quintanares
domingo, 13 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
"Ficar bem nem sempre deixa outras opções. É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar. É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada. É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se. Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso." Caio Fernando Abreu
Grande Chico
Você, Você (Canção Edipiana)
Chico Buarque
Que roupa você veste, que anéis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?
Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta
Onde é que você some?
Que horas você volta?
Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?
Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?
Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?
Chico Buarque
Que roupa você veste, que anéis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?
Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta
Onde é que você some?
Que horas você volta?
Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?
Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?
Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
"Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais alguns segundos, nos enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo”, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista."
Clarice Lispector In: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
Clarice Lispector In: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
(...) Todas as vezes na vida que eu falei em absolutismos eu sabia que estava mentindo porque, pra mim, tudo sempre é imediato, porque eu não tenho a mínima paciência de não ser mimada...Mas sempre, sempre, cinco minutos depois, tudo passa. Nunca menos e raramente mais do que isso, cinco minutos, e tudo vai embora porque é assim, as coisas têm que passar, os dias têm que mudar, os ares têm de ser novos e a vida continua, com ou sem qualquer um.Só que esse sempre foi e ainda é o seu problema. Não ser o um que não faz falta, não ser a noite perdida num canto de um balcão qualquer, não ser o beijo de hálito gelado, tesão quente e vontade limitada. O seu problema, é ser um problema sem solução. É ser vontade pra mais de anos, é ser virtude pra uma vida inteira, é ser idealizado porque há tanto tempo eu, você e o mundo que nos cerca, separados, esperamos tanto... Pra mim, é dificil aceitar e entender que eu tentei te deixar pra trás, como todo o resto, mas não consegui. É dificil olhar os fatos, comprovar as dificuldades, ter preguiça, sentir cansaço, doer, arder, ferver e, mesmo assim, não conseguir te colocar dentro de um prazo. Seu prazo de validade não venceu em cinco minutos."
Rani Ghazzaoui
Rani Ghazzaoui
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Clariceando
"Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia." Clarice Lispector Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
bateu a síndrome de Alice na volta ao mundo real...
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
voltando a labuta...
"...torço, o que mais posso fazer? "dar certo" é tão abstrato que sempre uso aspas nesta expressão - anyway, que aconteça, que deixe marcas, boas ou más, lembranças, tristes ou alegres, n´importe quoi. Que deixe material para o baú da memória, penso sempre assim, até nas maiores saias justas. (...) e lá estarei eu daqui 20 anos na minha cadeira de balanço, cercado de amigos e sobrinhos olhando o fogo na lareira, e pensando com um sorriso indecifrável no lábios: ah. Ah aquela tarde, ah aquele moço, ah aquele pôr-do-sol, ah aquele beijo no convés do navio. E dê-lhe balançar a cadeira nessa espécie de pescaria do tempo. (...) Viver é bom demais, e veloz, meio gincana às vezes. Pegue a tudo que você tem direito, e nós temos direito a absolutamente tudo de bom. (...) Por tudo que há de mau no mundo, nós merecemos o máximo do bom. Sem culpa!" Caio Fernando Abreu
Assinar:
Postagens (Atom)