Um cadim de tudo que gosto, música, literatura, fotografia e outras coisinhas que me fazem feliz....
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
"Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. "
Caio Fernando Abreu In: Dispersos
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Formas
De um único modo se pode dizer a alguém:
'não esqueço você'
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo porque bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas no meu ouvido
'não esqueço você'
Manchas de luz na parede,
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.
Adélia Prado
De um único modo se pode dizer a alguém:
'não esqueço você'
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo porque bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas no meu ouvido
'não esqueço você'
Manchas de luz na parede,
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.
Adélia Prado
“Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobrenada e que não é o vital; o “mau de muitos” é consolo, mas não é solução.”
Clarice Lispector In: A Bela e a Fera, CONTOS
Clarice Lispector In: A Bela e a Fera, CONTOS
Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorando a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
"Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo: sou ainda a rainha dos medas e dos persas e sou também a minha lenta evolução que se lança como uma ponte levadiça em um futuro cujas névoas leitosas já respiro hoje. Minha aura é mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz única. O mundo: um emaranhado de fios teleféricos em eriçamento. E a luminosidade no entanto obscura: esta sou eu diante do mundo. Equilíbrio perigoso, o meu, o perigo de morte de alma. A noite de hoje me olha com entorpecimento, azinhavre e visco. Quero dentro dessa noite que é mais longe que a vida, quero, dentro desta noite, vida crua e sangrenta e cheia de saliva. Quero a seguinte palavra: esplendidez, esplendidez é a fruta na sua suculência, fruta sem tristeza. Quero lonjuras. "Clarice Lispector In: Água Viva
domingo, 26 de setembro de 2010
"A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita nunca o seu perfume. Violeta diz levezas que não se pode dizer."
Clarice Lispector
sábado, 25 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
"Quase analfabeto de si mesmo, sem vocabulário suficiente para explicar-se sequer a um espelho. Não queria assim, esses turvos. Não queria assim, esses vagos. Sem nenhum humor. Sem nada que pulsasse mais forte que o frio cuidado com que desordenava-se, um gole disciplinado de vodca quando alguma corda do violino rebentava em plena sinfonia e, no meio do palco, impossível deter o acorde."
Caio Fernando Abreu In: Porta-Retrato
Caio Fernando Abreu In: Porta-Retrato
"Viver é um ato que não premeditei. Brotei das trevas. Eu só sou válida para mim mesma. Tenho que viver aos poucos, não dá para viver tudo de uma vez. Nos braços de alguém eu morro toda. Eu me transfiguro em energia que tem dentro dela o atômico nuclear. Sou o resultado de ter ouvido uma voz quente no passado e de ter descido do trem quase antes dele parar — a pressa é inimiga da perfeição e foi assim que corri para a cidade perdendo logo a estação e a nova par tida do trem e seu momento privilegiado que desperta espanto tão dolorido que é o apito do trem, que é adeus."
Clarice Lispector in 'Um Sopro de Vida'
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez...
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar...
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer...
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender
Aprender...
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer...
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cór
Só nos resta aprender
Aprender...
Beto Guedes e Ronaldo Bastos
"Mas quase nem doeu, meses seguintes. Pois veio a primavera e trouxe tantos roxos e amarelos para a copa dos jacarandás, tantos reflexos azuis e prata e ouro na superfície das águas do rio, tanto movimento nas caras das pessoas do Outro Lado com suas deliciosas histórias de vivas desimportâncias, e formas pelas nuvens ― um dia, um anjo ―, nas sombras do jardim pela tardinha ― outro dia, duas borboletas fazendo amor pousadas na sua coxa. Coxa’s Motel ele riu."
Caio Fernando Abreu In: Depois de Agosto
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Poema Só Para Jaime Ovalle
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
Manuel Bandeira
Samuel Rosa / Nando Reis
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
terça-feira, 21 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
"Hoje pensei sério: Se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder.Quero tudo.Mas esse tudo é tão grande, tão vago, que me sinto estonteado.É preciso ir limitando meu sonho,apagando as linhas supérfluas,corrigindo as arestas,até restar somente o centro,o âmago,a essência." Caio Fernando Abreu
"Ah, meu amor, as coisas são muito delicadas. A gente pisa nelas com uma pata humana demais, com sentimentos demais. Só a delicadeza da inocência ou só a delicadeza dos iniciados é que sente o seu gosto quase nulo. Eu antes precisava de tempero para tudo, e era assim que eu pulava por cima da coisa e sentia o gosto do tempero."
Clarice Lispector In: A paixão segundo G.H
domingo, 19 de setembro de 2010
"Não gosto quando a gente fica falando assim no que não foi, no que poderia ter sido. God! Não aos sábados, principalmente à noite. Não hoje, por favor, hoje não dá, eu tenho. Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende? Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa."
Caio Fernando Abreu In: Pela noite
Caio Fernando Abreu In: Pela noite
PARA COMER DEPOIS
Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
'Eh bobagem!'
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.
Adélia Prado
Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
'Eh bobagem!'
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.
Adélia Prado
sábado, 18 de setembro de 2010
ESTRADA
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho
manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
Manuel Bandeira
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
"Têm razão os cépticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas. Felizmente, graças à inesgotável generosidade da imaginação, cá vamos suprindo as faltas, preenchendo as lacunas o melhor que se pode, rompendo passagens em becos sem saída e que sem saída irão continuar, inventando chaves para abrir portas órfãs de fechadura ou que nunca tiveram."
José Saramago In: Viagem do Elefante.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Cartas imaginárias
Querido Helano,
Hoje eu andei as ruas todas em silêncio, tentando fazer silêncio pelo lado de fora. Quando não quero que os meus pensamentos acordem as crianças do mundo, prefiro escrever uma carta sem muito ruído. Antes disso, chamei a minha avó. A minha avó só queria um abraço. E avós, na minha história, são pessoas que esperam o dia todo por um abraço. E abraços, na minha história, são técnicas de estourar, com o corpo, um balão cheio de vazios. Ah, Helano, vim pelas ruas lhe escrevendo cartas. Dois rapazes riram das roupas de um homem. Quis escrever cartas a esse homem também, mas dois passos eram ainda mais longe que Paris! Queria dizer a ele que não se sentisse desconfortável no mundo, tudo bem a sua blusa ser assim. O homem baixou a cabeça como se o carteiro entre nossos passos tivesse errado os braços e o homem, já tão longe de mim, tivesse atravessado a rua. Quis dizer que a blusa roxa e brilhante brincava de voar no varal, acenando alegre aos transeuntes. Quis dizer isso a ele, quis muito, mas não disse, é claro. Há tantas coisas que não dizemos a um desconhecido... Talvez, ainda mais, muito mais, aos desconhecidos de Paris! Por isso lhe escrevo, para que não se esqueça de nosso mundo quentinho. Por hoje, fiquei com o começo desta carta e um abraço em minha avó. Por hoje, querido Helano, por hoje, foi só."
(Rita Apoena)
"Lembro que olhando para cima, descobri entre o roxo e o rosa das nuvens um anjo também pálido, magro e de barba por fazer, vestido de negro, com um leve sorriso nos lábios, vertendo uma gota de mel sobre nossas cabeças. Não prestei atenção nele. Me deixava levar, guiado apenas pelo jardim que entrevia pelas frestas dos tijolos, nos muros-palavras erguidos entre nós, com descuido e precisão. Viriam depois, mais muros que os de palavras, muros de silêncio tão espesso que nem mesmo os demorados exercícios de piano, as notas repetidas e os dedos distendidos, conseguiriam derrubar."
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Recebi meu primeiro selo, um carinho da ANA do pequenasepifaniaseoutrosdevaneios.blogspot.com, vou tentar cumprir as regras.Indicar 15 blogs, então ai vai:
1- http://wwwmarilinda-marilinda.blogspot.com
2- http://ceciliameireles2009.blogspot.com/
3- http://aartedaliteratura.blogspot.com
4- http://perdiochao.blogspot.com/
5- http://projectoclarice.blogspot.com/
6- http://segredosdopequenoser.blogspot.com
7- http://ccotidiano.blogspot.com/
8- http://umbauzinhodememorias.blogspot.com/
9- http://lizkasper.blogspot.com/
10-http://epifaniasealumbramentos.blogspot.com
11-http://outrodiaoutracor.blogspot.com/
12-http://www.juocaribe.blogspot.com/
13-http://asteroide1977.blogspot.com/
14-http://euquerotantoainda.blogspot.com/
15-http://wwwantesqueeuesqueca.blogspot.com/
10 coisas sobre mim, isso é uma pedreira hein! rs, vamos lá:
1- Minhas duas paixões: meu filho Thiago e minha neta Mª Eduarda
2- Sou uma historiadora apaixonada por verso e prosa
3- Música é um afago em minh`alma
4- Não saio de casa sem minha câmera digital.
5- Adoro um dedim de prosa
6- Às vezes sou absurdamente emotiva.
7- Mantenho amigos imaginários da infância.
8- Não consigo entrar em uma livraria sem sair com alguns livros.
9- Tenho fases como a lua adversa de Cecília.
10- Ainda vou me conhecer bem .
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
"Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados. É preciso que você venha nesse exato momento. Abandone os antes. Chame do que quiser. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates…
Apague minhas interrogações.Por que estamos tão perto e tão longe? Quero acabar com as leis da física, dois corpos ocuparem o mesmo lugar! Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha. Não sou pedaço. Mas não me basto.”
Caio Fernando Abreu.
domingo, 12 de setembro de 2010
"Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vez em quando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo."Caio Fernando Abreu
"Gosto de olhar as pedras e os desenhos do vento na superficie da água, gosto de sentir as modificações da luz quando o sol está desaparecendo do outro lado do rio, gosto de sentir o dia se transformando em noite e em dia outra vez, gosto de olhar as crianças brincando no corredor de entrada e das palmeiras que existem no meio da minha rua — gosto de pensar que vou sempre ter olhos para gostar dessas coisas, e por mais sozinho ou triste que eu esteja vou ter sempre esse olhar sobre as coisas."
(Caio Fernando Abreu)